ontem comprei um livro numa daquelas livrarias mágicas que encontramos às vezes. uma pequena porta numa rua pequena, num labirinto de ruas pequenas. cinco reais, capavermelha e letras pretas. discretamente subversivo. umas noventa páginas. a pequena velhinha de cabeça branca e cabelo curto lisinho sentada nos fundos escrevendo sobre uma pequena mesa de madeira sorriu e levantou pra me atender.
volto de trem bebendo antártica, pensando em lentes e prismas, vendo a luz laranja do pôr do solrefratada nos riscos das janelas. um lindo e vinis numa sacola. piso pesado e ando rápido entre a multidão e o caos. meu joelho está cansado e penso em outras gerações.
o physical graffitti é bom pra caralho. o coda também. o nação zumbi maduro é incomparável. o pendulum talvez seja o melhor do creedence. mais maduro e mais psicodélico com a mesma pegada. o bob dylan dos setenta também é foda. jim morrison e bob the bear morreram antes de mim. rimbaud também. sem perna. baudelaire provavelmente já tinha a saúde arruinada e seguia sua rotina. bukowski certamente estava de porre com uma puta feia. kerouac ainda era um forte. romário tava ganhando a copa, henry miller nem tinha começado a escrever e thoureau devia estar lá pelo walden isolado ou sendo preso por recusar-se a pagar impostos. já o john lennon estava doido perdido na linha tênue entre provocação social e agir como um mico de circo. morrem os revolucionários. o inverno vai embora. os fortes lutam e desafiam a si mesmo.
conta a história o sonho de jovens ocidentais que viajaram a katmandu em busca de paz espiritual e de uma sociedade sincera e perderam-se totalmente no desespero do vívio do ópio e todas as outras drogas.
vou e volto pela realidade, flutuo alguns anos em três minutos e volto às janelas do trem ou à televisão com os horários. por um instante pergunto pra que lado estou indo.
sinto os vinis e lembro de tudo. irei lavá-los e farei com que brilhem por dez mil anos. serão descobertos por uma nova civilização ainda rústica que aprenderá a ouvi-los e através da música aprenderá um pouco conosco num futuro remoto e impensável. escolherão o caminho da vida e da carne.
já sonhei ser um índio guerreiro, em outra época, num passado distante, fazendo cachimbos, defendendo a américa dos podres invasores do velho mundo que trazia a ganância e a desordem.
eu um mensageiro veloz entre as tribos, cruzando florestas ou cordilheiras, descendo montanhas em disparada. pisadas firmes. pulando pedras. cada passada, quase um salto. cada pé mal chega a tocar o chão. o outro já impulsionou uma nova passada. não há como reduzir a velocidade.

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