caçado com boa razão
cresci como filho
de gente rica. meus pais deram-me
uma gravata e me educaram
nos hábitos de ser servido.
ensinaram-me também a arte de mandar.
mas quando cresci e olhei em volta
não gostei da gente de minha classe,
nem de mandar nem de ser servido.
e deixei a minha classe,
indo viver com os deserdados.
deste modo, criaram um traidor.
ensinaram-lhe as suas artes,
e ele passou
para o lado dos inimigos.
sim. eu revelo segredos.
estou no meio do povo e relato
como eles o enganam
prevejo o que virá,
pois estou a par de seus planos.
o latim dos padres venais
traduzo palavra por palavra
na linguagem comum.
assim todos vêem seus disparate. pego
nas mãos a balança da justiça
e mostro os falsos pesos. os espiões
me delatam, revelando que estou
ao lado das vítimas
quando se dispõem a atacá-las.
eles me advertiram e me tomaram
o que tinha ganho com meu trabalho.
e como não melhorei,
começaram a caçar-me.
mas em minha casa só encontraram escritos
que denunciavam seus atentados contra o povo.
emitiram então contra mim um mandado de prisão,
acusando-me de idéias subversivas,
isto é, da subversão de ter idéias.
aonde chego sou estigmatizado
pelos proprietários, mas os deserdados
sabem do mandado de prisão e me escondem.
dizem:
a você eles estão caçando com boas razões.

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