de que modo convém a um homem comportar-se em relação ao atual governo americano? Respondo que ele não poderá associar-se a tal governo sem desonra. Não posso, por um instante sequer, reconhecer como meu governo uma organização política que é também governo de escravos.
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A grande maioria dos homens serve ao estado desse modo, não como homens propriamente, mas como máquinas, com seus corpos.
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Leis injustas existem: devemos contentar-nos em obedecer a elas ou esforçar-nos em corrigi-las, obedecer-lhes até triunfarmos ou trangredi-las desde logo? Num governo como este, os homens geralmente pensam que devem esperar até que a maioria seja persuadida a altera-las. Pensam que, se resistissem ao governo, o remédio seria pior que o mal.
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A lei jamais tornou os homens mais justos, e, por meio de seu respeito por ela, mesmo os mais bem intencionados transformam-se diariamente em agentes da injustiça.
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A única obrigação que tenho direito de assumir é a de fazer a qualquer tempo aquilo que considero direito.
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Não é dever de um homem, na verdade, devotar-se à erradicação de qualquer injustiça, mesmo a maior delas, pois ele pode perfeitamente estar absorvido com outras preocupações. Mas é seu dever, ao menos, lavar as mãos em relação a ela e, se não quiser mais leva-la em consideração, não lhe dar seu apoio em termos práticos.
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Se a injustiça fz parte do atrito necessário à máquina do governo, deixemos que assim seja. Talvez amacie com o passar do tempo, e certamente a máquina irá se desgastar. Se a injustiça tem uma mola, polia, cabo ou manivela exclusivamente para si, talvez possamos questionar se o remédio não será pior que o mal. Mas se ela for de natureza tal que exija que nos tornemos agentes de injustiça para com os outros, então proponho que violemos a lei.
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Não pago imposto individual há seis anos. Por causa disso, certa vez, fui colocado na cadeia por uma noite.
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Encontro diretamente, frente a frente, esse governo americano, ou seu representante, o governo do estado, uma vez por ano –não mais- na pessoa do coletor de impostos. Este é o único modo pelo qual um homem em minha situação pode necessariamente encontrá-lo. E então ele afirma claramente: “reconheça-me.” E a maneira mais simples, mais efetiva e, no atual estado de coisas, mais indispensável de tratar com ele sobre este assunto, de expressar nossa pouca satisfação e carinho em relação a ele, então, é nega-lo
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Se alguém me dissesse que esse é um mau governo porque tributa determinadas mercadorias estrangeiras trazidas a seus portos, é bastante provável que eu não movesse nenhuma palha a respeito, já que não posso passar sem eles. Todas as máquinas têm seu atrito, e isto possivelmente tem um lado bom que compensa o lado ruim. De qualquer modo, seria bastante nocivo fazer muito alvoroço por causa disso. Mas quando o atrito chega ao ponto de controlar a máquina, e a opressão e o roubo se tornam organizados, digo que não devemos mais ficar preso a tal máquina.

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