segunda-feira, 22 de setembro de 2008

democracia

Como tudo no brasil, as eleições acontecem de forma comicamente trágica.
Nossas máquinas de votar são as mais modernas do mundo, precisamos de poucos segundos para digitar um número e em algumas horas a apuração está terminada.
Toda essa agilidade e eficiência causam estranhamento naqueles que estão acostumados às filas, ao caos e à ineficiência do poder público do país.
Um processo judiciário demora vários anos para ser encerrado. E esse processo for contra o estado, levarão algumas décadas até que a pretensão seja efetivamente satisfeita. Para conseguir um documento em algum órgão público, geralmente perde-se a tarde inteira, esperando ser atendido. Para aposentar-se depois de uma vida de trabalho em nome do formigueiro, é preciso ter sorte para não perder alguns anos nas filas do inss. Projetos de lei importantes são desprezados sem nunca serem votados pelo legislativo, e todo tipo de injustiças e ilegalidades acontecem normalmente sem que o executivo interfira.
Já quando se trata de eleições a coisa é diferente. Tudo é feito sob aparente legalidade e eficiência. O povo sente-se honrado por colocar as mãos naquelas máquinas avançadas. Sente-se importante por participar desse processo, afinal, dizem que o futuro do país está em suas mãos e que seu voto é o único instrumento que possui para mudar a triste realidade.
No entanto, é só prestar um pouco de atenção no processo como um todo para perceber a trágica comédia. Nenhum dos candidatos apresenta um discurso sério, concreto, com propostas concretas, opiniões concretas ou metas concretas. Escolhem temas vagos como saúde e segurança e afirmam simplesmente: “comigo haverá segurança” ou “comigo os hospitais funcionarão”.
O ponto principal da campanha é a figura do candidato, que deve apresentar ares de herói e salvador do povo, transformando-se em ídolo através de slogans e frase de efeito. Abusa-se do marketing e das técnicas psicológicas de manipulação das massas, amplamente utilizadas e aperfeiçoadas pelos meios de comunicação, desde a criação do rádio. Geralmente o candidato que tiver a melhor estrutura de marketing será o escolhido pelo povo.
A humanidade acreditou que o sistema democrático seria o caminho para o fim da opressão e da exploração, e lutou por sua implantação. Muitos deram a vida por ele. Mas logo ficou claro que a maioria é manipulada, não elege seus iguais, e a democracia, na prática, perpetua e legitima o poder da minoria dominante.
Em 1830, menos de cinqüenta anos após a revolução francesa, proudhon já percebia e lamentava tal equívoco.
O povo parece não confiar em si mesmo e buscar salvadores, como eterno colonizado..
Além do marketing, outra lendária forma de se conseguir votos é a troca de favores, ou a distribuição de verbas para determinados grupos, em troca de apoio. Todos saem felizes, os eleitores ficam agradecidos e o candidato ainda gasta menos do que gastaria com caríssimas propagandas.
Participo de um grupo de cultura e arte formado quase exclusivamente por jovens que votarão pela primeira ou segunda vez nessa eleições. Se um candidato vai até nós um mês antes da votação e oferece condução grátis para alguns eventos em troca de apoio político, sinto-me obrigado a interferir.
Interferir para abrir alguns olhos e deixar bem claro o que estava acontecendo, interferir para chamar a atenção do tal candidato, interferir para deixar claro que aquilo estava errado, interferir pra dizer que eu não participaria.
Não era minha intenção impedir que eles fechassem o acordo que achassem interessante. De forma alguma. Se todos fazem isso e eu não me meto, porque eu impediria que logo meus amigos fizessem um acordo lucrativo para eles? Ao contrário, queria dizer, inclusive, que seu apoio era importante e eles poderiam conseguir mais do que estava sendo oferecido.
Eles me olharam com olhos assustados, como se eu quisesse impedi-los de conseguir o primeiro apoio financeiro que conseguiam em alguns anos e disseram sorrindo que eu era mesmo um revolucionário-anarquista-louco.
Disse metade do que queria e sai da sala para que eles negociassem em paz.
Uma das coisas que mais me irrita nesse país é a impossibilidade de discutir. É a proibição implícita de tocar em certos assuntos, de dizer que o rei está nu. Falar certas coisas é ser terrorista-revolucionário-anarquista. É preciso manter as aparências, não chamar a atenção para a farsa que vivemos, não questionar nosso ridículo pensamento de colonizados, simplesmente ficar quieto e continuar varrendo a sujeira para baixo do tapete.

Um comentário:

leleo disse...

Infelizmente a política tornou-se apática ao paladar do cotidiano. É mais confortavle olhar o próprio umbigo e beber a cerveja de cada dia.


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